"MAIS PERTO DA ESSÊNCIA O SENTIDO RESPIRA"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Marcelo Pereira (1964 Recife/Pernambuco)








RELAX
valium
o quanto
pega

TATUAGEM
esta faca a fogo finca fere
uma flor
em tua face

AMANTES

luas, sóis
nós
eternos viajantes
os mesmos lençóis

POEMA PARA SER LIDO AO SOM DE HUMMERBIRD DE B.B. KING

1.o calendário
desfolha
dia
a
dia
a juventude
nos trai
frustrando
uma
a
uma
as surpresas
2.o calendário
armadilha
instaura - em fragmentos -o tempo
cíclico
folha
afolha
ácido
asfixianteao cotidianocai em nóse passa.
3.o calendário
é um vampiro
suga
gota
a
gota
as emoções
4.o calendário
des folha
nunca
de flora
não tem sexo
não exala
o sacro perfume de Eros
5.o calendário não faz previsão de tempo
6.o calendário não tem pressa
7.o calendário
uma armadilha
suicida.

GIRASSOL
A mandala explode
sete cores
pétala a pétala

FERA

Sempre fui domador de ausências
e me espanto
quando dizem: domador de palavras
uma fera que me devora: solidão
É doce morrer no marmas o mar não cabe em si
expande-se nas palavras, espumas
corpos
cabelos
contrai-se
violento
convulsões e vômitos incontidos
suicida-se na praia
o mar
êxtase
enganosigno
o poema
o mar irrompe - submarino
nada entre o nada
e é só linguagem
ilha cercada de tubarões e náufragoso mar afoga poeta
sem seu dicionário de signos
ritmos, rimas e desejos
o mar não se traduz
é e nega-se: suicida

REMORSOS E LEMBRANÇAS
teu sorriso congelado numa velha fotografia
mudo e cego
o destino não baterá a minha porta

FOG
entre o gole de café forte
e o aconchego solitário
do edredon
noturno, notívago
procuro teu nome em néons

SEM A MUSA, EM GARANHUNS
noite de chuva
nem luva
nem vulva

CONVERSA DE BAR
filosofia de botequim
samba, sexo dos anjos, chinfrim
o vício versa

RUA DAS FLORES III
noite em junho
tulipaso sabor fermentado de cevada
angústia é teu nome

quinta-feira, 10 de julho de 2008

LEMBRANÇAS, plagios.


Além da esperança existe uma lembrança. E apesar da eterna dúvida, tome ar para subida, sem pensar na queda súbita. Resta apenas fazer uma prece pelos rebeldes de coração, enjaulados. É tão simples poder ser feliz. O que dificuculta é que as vezes depende de dois. E cada cabeça cada mundo. Me dê vamos sair para ver o sol...e só basta. Fala doce como a chuva, quando fala. Palavras são apenas tentativas de comunicação. Eu não sei dizer, nada por dizer, então eu escuto. Apenas ouça a música que enche as ruas da cidade. O que tem a perder!? Esqueça os problemas e o que te preocupar. Ter as raízes num genuíno desprendimeto. Mais mar..para comtemplar, questionando a vida. Pois afinal das contas, através do meu coração passou um barco que não pára de seguir sem ti o seu caminho lá no alto do caparoá, ou na miragem de serra guande, ou no encanto do Capão, ou na hipinotizantre barra grande, ou no sofá de lá de casa. Essa foi a forma mais cercada de te dizer que eu sou melhor que você, mais por favor fique comigo que eu não tenho mais ninguém. Antes não, agora sim eu quero me arriscar. Eu quero vida fácil sem ser puta e com reputação, se assim entender. Entender é limitar. Pois o que me limita me destroi. Perder-se também há de ser caminho.


quem sou: UMA ESTRANHA (em todos os seus sentidos) COM SIMPATIA PELOS INCOMPREENDIDOS.

domingo, 22 de junho de 2008

Tennessee Williams - Tradução do texto original com o título ONE ARM







Em New Orleans, no Inverno de 39, havia três prostitutos que vagueavam numa certa esquina de Canal Street e numa daquelas ruas estreitas que desaguam na parte velha da cidade. Dois eram apenas rapazes de cerca de dezassete anos que só despertavam uma atenção passageira, mas o mais velho dos três era um jovem inesquecível. Chamava-se Oliver Winemiller e fora em tempos campeão de pesos pesados da esquadra do Pacífico, antes de perder um braço. Agora parecia uma estátua de Apolo mutilada, e tinha também a frieza e impassividade de uma figura de pedra. Enquanto os dois mais novos exibiam a energia impaciente dos pardais, a correr dentro e fora nos bares, a adejar pelas ruas e esquinas em busca de possíveis presas, Oliver ficava-se por um só lugar e esperava que se lhe dirigissem. Nunca falava primeiro, nem aliciava com um olhar. Parecia olhar por cima das cabeças dos transeuntes, com uma indiferença que não era fabricada, nem era de enfado ou vaidade, mas que tinha as suas raizes num genuíno desprendimento. Quase não ligava ao tempo. Quando a chuva fria vinda do Golfo varria as ruas, os dois mais novos ficavam encolhidos, a tremer, desaparecendo completamente dentro dos casacos esfarrapados. Mas Oliver ficava ali, na sua T-shirt e blue jeans já muito desbotadas, quase brancas, do muito uso e muitas lavagens, tão justas ao corpo como as roupas de uma escultura. Conversas como esta ocorriam com frequência naquela esquina. “Não tens medo de apanhar uma constipação, meu rapaz?” “Não, eu nunca me constipo.” “Bem, há sempre uma primeira vez para tudo.” “Isso é verdade.” “Devias ir para um sítio qualquer para te aqueceres.” “Para onde?” “Eu tenho um apartamento.” “Para que lado é?” “Fica a alguns quarteirões aqui no Bairro. Apanhamos um táxi.” “Vamos a pé e tu dás-me o dinheiro do táxi.” Oliver estava nesta sua situação de deficiente há dois anos. Tinha sofrido aquela amputação no porto de San Diego quando ele e um grupo de colegas marinheiros chocaram contra uma parede, numa passagem inferior, quando viajavam num carro alugado a cento e vinte quilómetros à hora. Dois dos marinheiros que iam no carro tiveram morte imediata, um terceiro sofreu uma lesão na coluna que o deixou numa cadeira de rodas para o resto da vida. Oliver foi o que menos sofreu, ficando ainda assim sem um braço. Tinha então dezoito anos e as suas capacidades ficaram limitadas. Ele era do Arkansas, vinha dos campos de algodão, onde tinha conhecido apenas o trabalho duro ao sol e aquelas aventuras emocionais que os rapazes do campo experimentam nas noites de sábado e tardes de domingo, contacto experimental com raparigas que explodiu subitamente num caso ordinário e chocante com uma mulher casada, para cujo marido ele trabalhara como carregador. Ela foi a pessoa com quem, pela primeira vez, tomou consciência do invulgar arrebatamento que conseguia provocar. Foi para acabar com este caso que ele saiu de casa e se alistou na Marinha, numa base no Texas. Durante o seu período de treino dedicou-se ao boxe e enquanto ainda era recruta tornou-se um lutador destacado no campeonato da Marinha. A vida era feita de muito divertimento e nenhuma ponderação. Tinha apenas de lidar com o corpo e suas sensações. Mas depois ficara sem o braço, e isso pôs termo ao seu desenvolvimento como atleta e jovem perfeitamente adequado ao mundo físico em que cresceu. Oliver não conseguia pôr em palavras a alteração física que a sua mutilação arrastara com ela. Ele sabia que tinha perdido o braço direito, mas não tinha consciência plena de que com ele tinha desaparecido o centro do seu ser. Mas o ego, que não forma palavras nem mesmo pensamentos, tinha chegado a uma constatação que subia secretamente em turbilhão do seu recôndito laboratório e o mudou completamente em menos tempo do que a pele nova levou a cobrir-lhe o coto do braço perdido. Nunca disse para si próprio, estou perdido. Mas o seu ego sem palavras sabia-o, e em submissão ao seu controlo irracional o jovem começara, logo que saíra do hospital, à procura da destruição. Começou a vaguear pelo país, indo primeiro para Nova York. Foi aí que Oliver aprendeu a substância daquilo que se tornou a sua ocupação. Associou-se com um outro vadio que lhe abriu os olhos para o valor da sua mercadoria e como fazer dinheiro com ela. Numa semana o jovem maneta estava perfeitamente familiarizado com as práticas e a cultura do submundo que fervilhava à volta dos bares de Times Square e da Broadway e das alamedas do parque, ladeadas de bancos, e que por lhe ser estranho, pouco o chocou. A perda do braço tinha-lhe aparentemente embotado os sentidos. Com ele tinha desaparecido aquela sadia qualidade que o tinha levado a sair de casa quando aquela adulta ordinária o tinha iniciado em práticas de ardor anormal. Agora já não sentia vergonha de que a água e sabão não lavassem tão bem como ele gostava. Quando o Verão acabou, juntou-se à migração para sul. Viveu algum tempo em Miami. Aí saíu-lhe a sorte grande. Conheceu uns desportistas ricos, e durante todo esse tempo passou de uns para outros, acumulando dinheiro mais depressa do que podia gastá-lo em roupas e diversões. Aconteceu então que, uma noite, ele se embebedou no iate de um corretor da bolsa no porto de Palm Beach e, sem qualquer razão que ele depois conseguisse ter por certa, bateu oito vezes na cabeça inclinada do homem, com um suporte de livros de cobre, tendo-lhe despedaçado o crânio com a última pancada. Nadou para terra, foi buscar as suas coisas e fugiu para fora do Estado. Isto pôs termo ao capítulo mais opulento da existência de Oliver. Daí em diante movia-se, por uma questão de segurança, em círculos mais discretos, perdendo-se no bando dos fugitivos em qualquer cidade suficientemente grande para que tal actividade pudesse passar despercebida. Então, uma noite, naquele Inverno em New Orleans, pouco depois da época do Mardi Gras, e quando ele estava já a pensar em se dirigir para Norte, Oliver foi apanhado por um polícia à paisana e levado para a cadeia, não sob a vulgar acusação de vagabundagem licenciosa, mas para interrogatório relacionado com o assassínio do corretor rico no porto de Palm Beach. Arrancaram-lhe um confissão completa em cinco minutos. Mal se esforçou por iludir as perguntas. Deram-lhe meio copo de whisky para lhe soltar a língua e ele fez-lhes um relato negro da festa que o corretor tinha dado no seu iate. Oliver e uma prostituta receberam cem dólares cada um para fazerem aquilo a que se chama um blue movie, isto é, um filme feito em privado, com cenas licenciosas entre duas ou mais pessoas, e geralmente com uma qualquer narrativa de tipo grosseiro. Ele e a rapariga tinham-se despido gradualmente diante da câmara e de todo o grupo dos convidados que se encontravam no iate, e entregaram-se àquelas carícias e intimidades só geralmente testemunhados por quatro paredes e uma porta trancada. A rodagem não chegara ao fim. Para seu próprio espanto, Oliver revoltara-se subitamente, batera na rapariga e dera um pontapé na câmara, fugindo depois para o convés superior. Lá em cima, pensara que se ficasse no iate acabaria por fazer qualquer coisa mais violenta. Mas quando os outros foram, por fim, para terra, numa lancha, Oliver ficara, porque o anfitrião lhe tinha acenado com dinheiro e a promessa de mais ainda. “Eu já sabia, quando o deixaram só comigo, que ele se ia arrepender,” disse Oliver em declarações à polícia. Foi esta confissão que o procurador utilizou para o acusar ainda de premeditação. No julgamento tudo correu contra ele. O seu testemunho foi ineficaz frente ao prestígio das outras testemunhas, que juraram, todas elas, que nada de anormal se tinha passado no iate. (Ninguém, à excepção de Oliver, se lembrava de nada acerca do blue movie, nem ninguém tinha ouvido falar da prostituta.) E o facto de Oliver ter tirado do corpo da vítima um anel de diamantes e uma carteira confirmou a culpa do jovem e condenou-o à cadeira eléctrica. A prisão do assassino do corretor foi notícia nos jornais de todo o país. A fotografia do jovem estropiado saltou dos jornais para os olhos espantados dos homens que o tinham conhecido em todos aqueles lugares por onde Oliver tinha passado nas suas viagens sem destino. Para aqueles homens que o tinham conhecido, a sua imagem não era daquelas que se esquecem facilmente. O grande jovem louro, que fora boxeur antes de ficar sem o braço, tinha sido como um planeta entre as luas dos seus anseios, firme na sua órbita, enquanto elas giravam à sua volta. Agora tinha sido apanhado algures e caíra em desgraça. E por esta desgraça ele tinha -lhes sido, em certo sentido, devolvido. Já não andava nas estradas ou caminhos, sempre em movimento, estava enjaulado num canto, apenas à espera da morte. Começou a receber cartas deles. Cada vez eram em maior número os envelopes que o carcereiro, de manhã, lhe metia na cela, pelas grades. As cartas vinham geralmente assinadas com nomes fictícios e se pediam uma resposta, os endereços fornecidos eram a posta restante de uma daquelas cidades maiores onde Oliver exercera a sua actividade. Vinham escritas em fino papel branco, algumas ligeiramente perfumadas, e outras com dinheiro dentro. As mensagens tinham todas um fraseado semelhante. Todas falavam do choque que o seu problema lhes provocara, não podiam acreditar que fosse verdade, era como um pesadelo, e assim por diante. Faziam alusões às noites que ele tinha passado com eles, ou àquelas horas que quase todos invariavelmente consideravam como as mais ricas da sua vida. Havia nele qualquer coisa, escreviam eles, e não apenas no tão importante aspecto físico, que fizera com que não mais lhes tivesse saído da cabeça. Aquilo a que eles se referiam era o encanto dos derrotados que Oliver possuíra, uma qualidade que actua como uma cataplasma sobre os nervos inflamados daqueles que ainda se mantêm activamente em luta. Esta qualidade raramente está ligada à juventude e ao encanto físico, mas no caso de Oliver estava, e era esta rara combinação que fizera dele uma pessoa impossível de esquecer. E como estava condenado à morte, Oliver tinha para estes correspondentes aquela qualidade abstracta e velada do pastor que escuta, invisível, as confissões de culpa. As habituais inibições do inconsciente eram consequentemente neutralizadas e eles entregavam-se às sombrias alegrias do mea culpa. As ladainhas das suas culpas jorravam sobre o papel como a água de diques rebentados. Para alguns ele tornou-se o arquétipo do Salvador Sobre a Cruz que tomara sobre si os pecados dos seus mundos para serem lavados e purificados com o seu sangue e paixão. As cartas deste género enfureciam o prisioneiro, e ele prendia-as debaixo de um pé e rasgava-as aos bocados e atirava-os para o balde dos despejos. Com a mecânica crueldade da lei, a execução da sentença de Oliver deu-lhe ainda algumas semanas de espera durante os meses de Verão. No seu cubículo sufocante havia muito pouco para fazer, enquanto esperava a morte, e tempo suficiente, com o estímulo da fatalidade, para a natureza maleável do rapaz se refazer outra vez, e as cartas tornaram-se o instrumento deste processo. Naquelas primeiras semanas na cela da morte, ficava sentado na cadeira de encolher ou deitado no catre numa atitude não muito diferente daquela em que ficava encostado a uma parede de tijolos, nas suas blue jeans e T-shirt, numa esquina de New Orleans, até que alguém lhe perguntasse as horas ou lhe pedisse lume. Deram-lhe um baralho de cartas com nódoas de chocolate e livros de banda desenhada, cómicos e de aventuras, já esfarrapados, para passar o tempo. E havia um rádio ao fundo do corredor. Mas Oliver estava desligado daquele mundo que clamava da boca do rádio e do mundo da palhaçada e heroísmo unidimensionais com as cores naturais do espectro infantil que a bandas desenhadas exaltavam. Tudo isto lhe passava impetuosamente ao lado, em vez de o tocar, e só as cartas que recebia mantinham uma relação com ele. Passado algum tempo, ele não só lia todas as cartas, como também começou a dobrá-las e a pô-las outra vez nos envelopes e a juntá-las todas em maços amarrados com elásticos numa prateleira. Uma noite, sem pensar, tirou-as todas da prateleira e pô-las debaixo da almofada, e adormeceu com a sua única mão pousada sobre elas. Poucas semanas antes do dia da execução, Oliver começou a responder às cartas daqueles homens que lhe imploravam notícias suas. Escrevia com um lápis que rapidamente ficou reduzido a um toco sob a sua pressão desajeitada. Escrevia em papel-manilha e mandava as respostas em envelopes oficiais timbrados, para todas as cidades por onde andara.Como já não lhe restava qualquer parente vivo a quem escrever, esta era a sua primeira experiência em escrever cartas. No princípio escrevia com penosa dificuldade. A redacção da frase mais simples retesava-lhe os músculos da sua única mão poderosa, mas à medida que a escrita prosseguia, e num curtíssimo espaço de tempo, ganhou uma maior desenvoltura. Em breve as frases ganharam ímpeto como nascentes a desaguar num canal, e pouco depois começaram a fluir quase expressivamente e a soar como o falar sertanejo grosseiramente eloquente do Sul ao qual se juntaram idiomatismos saborosos do submundo em que ele se movera, e da estrada, e do mar. Nelas entrou o falar quente e vivo que a bebida e um comportamento generoso lhe tinham emprestado em certas ocasiões, as chansons de geste que os falares americanos desperdiçam tão desprocupadamente em bares e quartos de hotel. O símbolo da gargalhada na banda desenhada era muitas vezes empregue, aquele HA — HA bem carregado com a sua série de exclamações, as suas estrelas e espirais, e pôr tudo isto no papel era o que mais o aliviava, porque tinha o sabor da intensidade fervilhante que havia nele. Incluía muitas vezes uma ilustração grosseira, um esboço da cadeira onde ele estava condenado a sentar-se.As cartas eram deste género.“Sim, lembro-me perfeitamente de ti. Conheci-te no parque, atrás da biblioteca pública, ou foi no WC dos homens da central da Greyhound. Conheci tantos que às vezes confundo-os todos. Contudo, tu sobressais completamente. Perguntaste-me as horas ou pediste-me lume e começámos a conversar, e quando dei por mim estávamos no teu apartamento a beber. E como é que está Chicago, agora que já é Verão outra vez? Quem me dera sentir aquelas brisas frescas do lago ou beber uns tragos daquele excelente Connyack Cinco Estrelas onde passámos a noite naquele dia. Digo-te que está calor aqui, neste frigorífico. O frigorífico é bom. Ha-ha! Uma coisa com que de certeza posso contar é que isto vai aquecer antes de arrefecer outra vez. Se percebes o que quero dizer. Refiro-me à cadeira com os fios que espera pacientemente que me sente nela. A data é dez de Agosto e ficas desde já convidado, a não ser que não te deixem entrar. Isto é muito exclusivo. Com certeza gostavas de saber se estou com medo. A resposta é Sim. Não estou ansioso por aquilo. Fui boxeur até perder o braço e depois de isso acontecer sofri como que uma transformação que não consigo explicar excepto que todo este mundo me repugnava muito. Suponho que deixei de me importar com o que me acontecia. Isto é, perdera o respeito por mim próprio.“Andei por todo o país sem qualquer plano, excepto o de continuar sempre a andar. Engatei estranhos em todas as cidades por onde andei. Tive com eles relações que, para mim, apenas significavam dinheiro e um lugar para passar a noite e bebida e comida. Nunca pensei que pudesse significar tanto para eles. Ora, todas estas cartas como a tua provaram que estava enganado. Eu era qualquer coisa de muito importante para centenas de pessoas cujas caras e nomes se me varreram da cabeça logo que os deixei. Tenho a sensação de ter ficado como que em dívida. Não de dinheiro, mas de sentimentos. Tratei mal alguns deles. Vinha-me embora sem sequer dizer adeus, apesar de toda a sua generosidade para comigo, e cheguei mesmo a tirar coisas que me não tinham sido dadas. Não sei como é que alguns destes homens puderam perdoar-me. Se eu soubesse nessa altura, quer dizer, quando andava lá por fora, que se podiam encontrar sentimentos tão verdadeiros em pessoas estranhas, quer dizer, aquele tipo de pessoas que eu engatava para viver, parece-me que poderia ter sentido que havia outras coisas por que viver. Seja como for, a situação agora é desesperada. Tudo acabará para mim dentro de muito pouco tempo. Ha-ha! “Provavelmente não sabias que eu era um artista, da mesma maneira que um campeão de boxe maneta, e portanto vou desenhar-te uma bela gravura!” Esta tarefa de escrever cartas tornou-se a sua única ocupação, e tal como as pedras ficam quentes quando postas entre carvões, o cérebro do condenado ficou cada vez mais caloroso com um sentido de comunhão. Antes da desgraça, esta mudança podia ter sido a salvação. Podia ter oferecido um núcleo de integração pessoal que o rapaz não tinha desde que o sonho do sucesso nos ringues se fora. Uma personalidade sem núcleo constrói uma muralha à sua volta e vive sitiada. Oliver tinha assim cultivado a sua insularidade fria e absoluta, por detrás da qual estivera a cidade arruinada do campeão estropiado. Dentro daquelas muralhas houvera muito pouco ou nada com que lutar pela sobrevivência. Agora havia qualquer coisa a mexer lá dentro. Mas esta chegada à vida era impiedosa, por tardia. A indiferença desaparecera exactamente quando devia ter ficado para lhe tornar a morte mais fácil. E o tempo passava a correr. Na imutável clausura da sua cela, o tempo que mediava entre a sua juventude e a sua morte consumia-se como o lápis macio com que escrevia, até que apenas lhe restava um coto demasiado pequeno para agarrar. E que vivo ele estava ainda! Antes da prisão, ele pensava no seu corpo estropiado como qualquer coisa que, estragada como estava, apenas servia para maltratar. Ó maldito estropiado, costumava ele gemer para si próprio. A excitação que provocava nos outros era, para si, incompreensível e repugnante. Mas, ultimamente, a torrente de cartas dos homens que ele esquecera e que não conseguiam deixar de pensar nele começou a ressuscitar o seu interesse por si próprio. Começaram a desabrochar nele sensações auto-eróticas. Sentia o prazer doloroso que excitava as suas entranhas em resposta à manipulação. Nu em cima do catre, no Julho meridional, a sua enorme e única mão acariciava tristemente o corpo, explorando aquelas zonas erógenas que os dedos de outros, centenas de dedos estranhos, tinham apertado com uma avidez que, para ele, começava agora a ser compreensível. Tardia demais, esta ressurreição. Melhor fora que todos estes arco-íris da carne tivessem ficado em San Diego, juntamente com o braço amputado. Durante os primeiros tempos de prisão Oliver não tinha reparado em especial, nem se tinha preocupado muito com as limitações espaciais da sua cela. Bastava-lhe então estar sentado na borda do catre e não se movimentar mais do que o estritamente necessário para satisfazer as suas necessidades vitais. Isso tinha sido uma bênção para ele. Contudo, esse estado de espírito já se fora, e todas as manhãs tinha a sensação de acordar num espaço que diminuíra misteriosamente enquanto dormia. As repressões interiores gritavam assim pela libertação. A impaciência tornou-se uma fobia e a fobia estava a transformar-se em pânico. Não conseguia estar parado um só momento. Os seus passos pesados soavam no átrio como os de um gorila, porque ele andava descalço e caminhava ao acaso em passos largos à volta da sua jaula. Falava consigo próprio numa meia voz monótona que foi subindo de tom à medida que os dias passavam, até começar a competir com o infindável palavrório e clangor do rádio dos guardas. A princípio calava-se quando o mandavam, mas depois o pânico não o deixava ouvir as vozes dos guardas enquanto estes não começavam a gritar-lhe ameaças. Depois agarrava-se às grades da porta da cela e respondia-lhes aos gritos, com nomes e maldições mais violentas do que as deles. O comportamento do condenado cerceou quaisquer actos humanitários que estes homens duros pudessem ter tido para com ele, á medida que a morte se aproximava. Por fim, três dias antes da execução, castigaram um dos seus ataques de cólera virando contra ele a agulheta contra incêndios até ele ficar esmagado contra o chão feito num feixe, esganado. Ali ficou a soluçar e a praguejar e com a cabeça a girar numa espiral vertiginosa de pesadelos. Por esta altura, deixou completamente de escrever cartas, mas durante os intervalos em que estava mais calmo fazia desenhos extravagantes no seu caderno e copiava os símbolos violentos da banda desenhada, especialmente os enormes HA-HA com a sua pontuação gritante. Nos seus últimos dias punham-lhe sedativos na comida, mas essas drogas eram queimadas na fornalha dos seus nervos e o pouco sono que lhe proporcionavam mergulhava-o em pesadelos piores do que os que já tinha quando acordado. Um dia antes de morrer Oliver recebeu uma visita na sua cela da morte. O visitante era um padre Luterano acabado de sair do seminário, e a quem ainda não fora entregue uma igreja. Oliver recusara receber o capelão da prisão. Isto tinha sido noticiado nos jornais locais com uma fotografia de Oliver e um título, JOVEM CONDENADO RECUSA CONSOLAÇÃO DA FÉ. Falava também da natureza dura e impenitente do jovem que ia morrer muito em breve, e do seu comportamento violento na prisão. Mas a fotografia não condizia com estes factos, apresentando o rosto do jovem louro uma beleza viril, mas terna, daquele tipo que um qualquer pintor da Renascença podia ter atribuído secretamente a um santo juvenil, uma expressão que por vezes inspirara alguns comentadores a chamar-lhe ‘o assassino com cara de bebé’. Desde o momento em que vira aquela fotografia, o ministro Luterano andara a observar uma série de compulsões de tal maneira fortes que lhe parecia que se estava a render a um poder exterior. A sua sinceridade era tão evidente que não teve problemas em convencer o director da cadeia de que a sua missão junto daquele jovem era de inspiração divina, mas na altura em que o passe foi emitido, a força das suas compulsões tinha esgotado o jovem padre de tal maneira que caíu num estado de pânico nervoso e teria fugido do edifício se não tivesse sido ajudado por um guarda. Encontrou Oliver sentado na borda do catre, a coçar distraidamente a sola de um pé. Tinha apenas uns calções vestidos e o seu corpo irradiava um calor que atingiu o visitante como um poderoso holofote. O aspecto do rapaz não fora falseado na reportagem. Num primeiro relance o espírito do ministro regressou a uma obsessão da sua infância, quando durante todo um Verão tinha ido diariamente ao jardim zoológico ver uma pantera dourada. O animal era tido como particularmente selvagem, e uma tabuleta na jaula aconselhava os visitantes a manterem-se à distância. Mas os olhos do animal irradiavam uma tal inocência que a criança, que era muito tímida e cheia de angústias irracionais, encontrara neles um misterioso conforto e acabara por começar a vê-los brilhar benignamente na escuridão quando os seus próprios olhos se fechavam antes de adormecer. Então chorava até adormecer com pena do aprisionamento do animal e com uma insondável ânsia que lhe percorria todo o corpo. Mas, uma noite, ele sonhou com a pantera de uma maneira indigna. Os imensos olhos claros tinham-lhe aparecido numa floresta e ele pensara, se eu me deitar muito quieto, a pantera aproxima-se de mim e eu não tenho medo dela por causa das nossas longas comunhões através das grades. Despiu-se antes de se deitar. Um vento fresco começou a soprar e sentiu-se a tremer. Depois, um ligeiro medo apoderou-se-lhe dos nervos. Começou a pôr em dúvida a sua segurança com a pantera e teve receio de abrir os olhos outra vez, mas estendeu a mão, e, tão vagarosa e silenciosamente quanto possível, juntou algumas folhas à volta da sua trémula nudez e enroscou-se debaixo delas, tentando respirar tão suavemente quanto possível, na esperança de que a pantera já não o descobrisse. Mas o vento fresco aumentou e soprou as folhas. Então, subitamente, ficou quente, apesar da escuridão ventosa que o rodeava, e viu que o calor era da pantera dourada que se aproximara. Agora era inútil tentar esconder-se e era tarde demais para tentar uma fuga, e assim, com um suspiro, o sonhador deixou a sua posição enroscada e ficou estendido de braços e pernas afastados numa atitude de absoluta confiança e submissão. Começou a sentir qualquer coisa que lhe batia e logo percebeu, por causa do calor líquido, que era a língua do animal a lambê-lo, como aqueles animais fazem para lavar os filhos, começando pelos pés e subindo lentamente pelas pernas acima até que aquele toque narcótico lhe atingiu o ventre, e então o sonho tomou o tal curso indigno, e ele acordara a arder de vergonha, sob a iniciação húmida e dolorosa de Eros. Só fora visitar a pantera dourada uma vez, depois daquilo, e descobriu que não era capaz de suportar aquele olhar radioso do animal sem mortificação. E assim aquele idílio terminou, ou parecera terminar. Mas aqui estava de novo o olhar da pantera dourada, a inocência no perigo, um paralelismo exacto tão inequivocamente claro, que o ministro o reconheceu e sentiu o instinto infantil de se enroscar num círculo protector e cobrir o corpo com folhas. Em vez disso, meteu a mão no bolso e tirou uma caixa de pastilhas. “O que é isso?” perguntou o rapaz. “Pastilhas de veronal. Não me estou a sentir muito bem,” murmurou o padre. “O que é que tem?” “Um pequeno problema funcional no coração.” Tinha posto uma pastilha na língua, mas a língua estava completamente seca. Não conseguia engolir. “Tens aí água?” murmurou. Oliver levantou-se e foi à torneira. Encheu um púcaro esmaltado com água tépida e estendeu-o ao visitante. “O que é que o senhor veio aqui fazer?” perguntou ele ao jovem. “Ter só uma conversa.” “Não tenho nada a dizer, mas é uma cartada difícil.” “Então deixa-me ler-te uma coisa.” “Que coisa?” “O Salmo vinte e um.” “Eu disse-lhes que não queria aqui capelães.” “Eu não sou capelão, sou apenas…” “Apenas o quê?” “Um estranho com simpatia pelos incompreendidos.” Oliver encolheu os ombros e continuou a coçar a sola do pé. O ministro suspirou e tossiu. “Estás preparado?” murmurou. “Eu não estou preparado para a cadeira quente, se é isso que quer dizer. Mas a cadeira está preparada para mim, portanto que importa?” “Eu estou a falar de Eternidade,” disse o padre. “Este nosso mundo, esta existência transitória, é apenas o limiar de uma Imensidão no além.” “Tretas,” disse Oliver. “Não me acreditas?” “Por que é que havia de acreditar?” “Porque estás cara a cara com a última aventura!” Esta resposta saíu-lhe da boca com uma espécie de energia exultante. Estava embaraçado com o olhar firme do rapaz. Desviou o olhar tal como tinha feito, por fim, com a pantera dourada da última vez que tinha ido ter com ela. “Ha-ha!” disse Oliver. “Estou apenas a tentar ajudar-te a compreender…” Oliver interrompeu-o. “Eu fui boxeur. Perdi um braço. E porquê?” “Porque persististe no erro.” “Tretas,” disse Oliver. “Eu não ia a conduzir. Gritei ao sacana, abranda, meu sacana. Depois foi o embate. Boxeur, o meu braço foi arrancado. Explique-me isto.” “Isso deu-te a oportunidade de uma vida.” “A oportunidade de quê?” “De estenderes os teus braços espirituais e chegar a Deus.” Inclinou-se para Oliver e agarrou-lhe os joelhos. “Não penses em mim como homem, mas como uma ligação!” “Hein?” “Um fio que está ligado ao teu coração e carregado com uma mensagem de Deus.” O olhar curiosamente envolvente do condenado fixou o rosto do visitante durante alguns segundos. Depois disse, “Molhe aquela toalha.” “Qual toalha?” “Aquela que está por cima da cadeira em que está sentado.” “Não está muito limpa.” “Parece-me que está suficientemente limpa para o Ollie.” “O que é que queres fazer com ela?” “Limpar o suor das costas.” O padre humedeceu o pano amarrotado e teso e estendeu-o ao rapaz. “Faça-me isso.” “O quê?” “Limpe-me o suor das costas.” Virou-se e deitou-se sobre o estômago com um longo suspiro, uma exalação que trouxe de novo ao espírito do amedrontado visitante a pantera dourada de há quinze anos. Aquela tarefa continuou durante um minuto. “Cheiro mal?” perguntou Oliver. “Não, porquê?” “Eu estou lavado,” disse o rapaz. “Tomei banho depois do pequeno almoço.” “Sim.” “Sempre tive o cuidado de andar limpo. Era um lutador limpo — e um prostituto muito limpo!” E disse, “Ha-ha! Sabia que eu era um prostituto?” “Não,” disse o outro. “Bem, era exactamente isso que eu era. Foi a minha segunda profissão.” A fricção continuou mais um minuto, durante o qual o padre tivera a sensação de que o som de um tambor invisível avançava do fim do corredor até à porta da cela e depois através das grades até ficar mesmo por cima deles. Era o bater do coração. E essa palpitação começava agora a tornar-se irregular e a sua respiração assobiava. Deixou cair a toalha e procurou no bolso a caixa dos sedativos, mas quando a tirou viu que o cartão estava mole do suor e as pastilhas se tinham fundido numa pasta branca. “Continue,” disse Oliver. “Sabe bem.” Arqueou o corpo e puxou os calções mais para baixo. As ancas estreitas e esculturais do jovem ficaram à mostra. “Agora,” disse Oliver baixinho, “esfregue com as suas mãos.” O Luterano ergueu-se do catre num salto. “Não!” “Não seja trouxa. Há ali uma porta ao fundo do átrio. Faz barulho, quando entra alguém.” O ministro recuou. O rapaz agarrou-o pelo pulso. “Está ver aquele maço de cartas na prateleira? São contas de pessoas a quem eu devo. Não dinheiro, mas sentimentos. Durante três anos completos andei por todo o país a despertar sentimentos sem eu próprio sentir nada. Agora tudo mudou e eu também sinto. Estou só e refreado, exactamente como o senhor. Conheço o seu género. As coisas ou são arte ou então são religião, mas isso são tudo tretas e eu não vou nessa. Só precisamos é de um empurrão na cabeça!” Dirigiu-se ao homem como se fosse dar-lhe o empurrão. O visitante gritou. O guarda veio a correr para o deixar sair da cela. Tiveram de o levantar e levar amparado pelo corredor, e antes de chegar ao fundo começou com vómitos, como se as suas entranhas estivessem a ser arrancadas para fora. Oliver ouviu-o. “Talvez ele volte esta noite,” pensou o condenado. Mas ele não voltou e Oliver morreu com todas as suas dívidas por pagar. Contudo, morreu com bastante mais dignidade do que dera a entender aos seus carcereiros. Durante as últimas horas a sua atenção voltou-se de novo para as cartas. Leu-as uma e outra vez em voz baixa. E quando o director da prisão veio para o levar até à câmara da morte, ele disse, “Eu queria levar isto aqui comigo.” Levou-as com ele para a câmara da morte, como uma criança leva uma boneca ou um brinquedo para o dentista para lhe darem aquela protecção que só o que é familiar e amado pode dar. As cartas ficaram a fazer-lhe companhia, entaladas entre as coxas, quando ele se sentou na cadeira. No último momento um guarda estendeu a mão para lhas tirar. Mas Oliver apertou as pernas com uma força desesperada que dificilmente poderia ser vencida. O director fez um sinal para que as deixassem ficar. Depois o momento chegou, o ar zumbiu e escureceu. Raios vindos de além fronteiras do desconhecido, uma energia com nome e uso práticos, mas ilimitadamente misteriosa, que no princípio cobriu um espaço infinito de calor, brilho e movimento, foram instantaneamente canalizados através das células nervosas de Oliver e depois dispararam em retrocesso para lá daquelas imensas fronteiras, retirando e levando consigo tudo o que daquele jovem, cujo braço direito decepado fora conhecido por “o corisco do couro”, reclamavam como seu. O corpo, não reclamado depois da morte, foi entregue a uma faculdade de medicina, para ser usado no teatro anatómico. Os homens que efectuaram a dissecação ficaram algo desconcertados com o corpo que tinham ali sob os bisturis. Parecia destinado a um fim mais grandioso, para figurar numa galeria de escultura da antiguidade, tocada apenas pela luz através da quietude e contemplação, porque tinha a nobreza de um Apolo mutilado, que provavelmente mais ninguém conseguiria esculpir, de novo, de maneira tão pura. Mas a morte nunca foi uma predilecta da perfeição.

sábado, 17 de maio de 2008

é tudo EGOÌSMO....sim,me!






" pior coisa que existe é a dúvida. Não se sabe o que se passa na cabeça dos outros e nem na sua. Então numa esfera quase que matemática, ninguém está livre de ter dúvidas. Quando se trata de uma pessoa insegura, essa dúvida se multiplica por novecentos trilhões de vezes. A imaginação é algo terrível e glorioso. A cabeça de uma pessoa faz "jogos" extremamente complexos e o perigo está quando isso se torna um labirinto, e nem o "dono do jogo" consegue achar a saída. E os outros participantes se realmente existem desistem de jogar. Mas o dono não pode desistir, e aí está dado o problema...o jogo continua, e a aflição de não conseguir sair dele, faz com que o dono crie outro jogo para desanuviar. E ai se instalou o caos total. Total e particular, universal e pessoal. A confusão, como a do direito civil, ocorre na pessoa com a pessoa para a pessoa....porém se reflete no mundo. A viagem mental em que se envolve essa pessoa até esse momento não se sabe ter volta, eu creio que não. Mas como é angustiante viver e não saber, prefere-se acreditar que SIM, tenha saída! Portanto a única porta vista neste momento está nas outras pessoas. De duas fatalmente uma: ou a pesoa não acha justo, legal ou saudável entrar na porta dos outros, aí fica no seu joguinho medíocre e empacado pro resto da vida, ou aceita a proposta daquela belissíma porta, e entra sem medo ou com medo. Também isso não importa, agora ele está a mercê do jogo de outro. Não depende mais dele , o jogo naõ o pertence. Aí se pergunta, ele como quelquer outro mero participante não pode desistir desse jogo alheio? Eureca! Eis aí a solução. Sem querer achar, achei! A intenção era mostrar a não solução...mas agora me redimo, achei a solução. Para quem não entendeu nada do meu raciocínio confuso até agora, vou simplificá-lo. Você trava seu jogo, não espera aí...você pelo menos vai ter que ter lido e entendido o começo disso tudo, não vou repetir do início não! Continuando, Você está lá angustiado em seu jogo, que já se tornou um quebra cabeça indecifrável. Não vê saída nem ao menos solução. Todos os outros integrantes desse jogo que você é o dono já abandonaram a partida, e só se encontra você seu jogo (que está em você) e você. Cabou-se! Bate o desespero nos extrovertidos, triteza e apatia nos introvertidos, e eis uma porta alí...brilhosa lhe chamando para você entrar nela, e eis que esta porta é a porta do jogo de outra pessoa. Se você optar em entrar, você começa a jogar. Gostando de como o dono manipula seu jogo (jogo dele), você continua. Não estando satisfeito você simplismente abandona o jogo, e deixe que o seu dono o decifre sozinho. E taí! Você deu game over ao seu jogo, entrando em outro. Azar desse outro quando eu desistir, pois ele vai sofrer tudo aquilo que eu sofri, e sei que não é bom! Vixe, agora estou sendo egoísta! Abandono ou não o jogo do outro, como fizeram comigo? Aí se encerra uma dúvida...com outra dúvida só que fácil de se resolver. É ser egoísta ou não! Então toda pessoa que se diz "sem dúvidas" é um grande egoísta. Poxa sempre desconfiei disso! Mas agora ME provei isso! Que bom, que alívio em saber isso! Preciso saber agora uma forma de lidar com isso. Mais aí é outra história."




Èrica Carla Almeida Sobral